(do meu livro «Meu Universo»)
Já descrevi a paisagem
e o que se passa comigo,
quando estendo o meu olhar.
Falta o olhar atrevido!
Vamos lá baixar os olhos,
um pouco bisbilhotar,
ver mais ao pé, mais de perto.
Querer espreitar vizinhos,
não sei se está muito certo!
Na frente, vizinhos novos
nas duas casas, lá estão.
Não ponho nenhum senão!
Pessoas de poucas falas,
tratando de desmanchar
o que antecessores fizeram.
Até me fazem pensar
o que irá acontecer
aqui, se eu perecer.
Mais acima e mais abaixo,
(que esta rua é a subir),
tem vizinhos pouco próprios
que até me fazem sorrir.
Mesmo ao lado, na subida,
há uma casa de gaveto.
Dizem palavrão que ferve!
Mas é bom que não me enerve;
eu com eles não me meto!
São vizinhos belicosos...
sempre com música aos gritos...
e as motos a acelerar...
Também têm as cadelas
que estão sempre a ter filhitos;
os bonitos, há quem leve.
Ai, não ver isto, quem dera!
Outros, são atropelados...
Vizinhança, desespera!
Todos à solta p'la rua,
magrelas, escanzelados,
a assaltarem os jardins...
Os vizinhos resolveram
pôr cercas, portões fechados.
Puseram a casa à venda!?!!?
E, entretanto, sumiram.
Ela está tão mal cuidada...
Ai meu Deus, que desistiram!
Que rua tão sossegada,
com sossego em demasia!
(Se eles aqui não estivessem).
Por nunca se passar nada,
o meu cão adormecia!
Mas tenho muro bem alto
e dá para me isolar;
que eu gosto do meu descanso
e do meu 'lar, doce lar'!
Mesmo ao lado, na descida,
tem vizinhos de rancores.
Embirraram-me com o gato
porque ele estragava as flores.
As tais flores, eram folhas
que do outro lado havia.
Motivo do desacato:
- Rasgavam-se contra arames,
porque o vento lhes batia!?!?!
Amuada com os vizinhos,
que até gosto de ajudar,
terminei as brincadeiras:
levantei a divisória,
enchi-a de trepadeiras.
Achei por bem isolar-me
e com flores dividir;
entre nós, uma parede,
trepadeiras a florir.
Inda bem que são de fora,
para lá do sol poente.
É muito desagradável
não nos darmos co'as pessoas
e ter que olhar pra tal gente.
Eles têm esta casa,
para as férias vir passar.
Que sorte! Não os aturo
aqui, um ano, a morar!
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10/2000
Laura B. Martins
Soc. Port. Autores n.º 20958
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