(do meu livro «Pedaços da vida»)
O homem casou com ela, sem saber com que contava;
e até achou engraçado, não ver o que o esperava.
Vida em comum iniciada, pode ser bem divertida;
caso a saibamos levar, pra não dar cabo da vida.
A mulher que mal sabia, o que era cozinhar,
deixava o homem com fome, mas gostava de dançar.
Cantava, vestia bem, era até muito atrevida
mas, para trabalhar fora, não fazer da casa a lida.
Após o primeiro ano, começaram os sarilhos;
quando tudo estava bom, nasceu o primeiro dos filhos.
Era um berreiro de noite, para o bebé mamar
e, lá em casa, ninguém conseguia sossegar.
Muitas fraldas com chichi, e outras pouco cheirosas,
faziam com que o marido, esquecesse o odor das rosas.
Quando a coisa já mais calma, começava a entrar nos eixos,
nasceu-lhes uma bebé: deu-lhes água pelos queixos.
A esposa fica-lhe em casa, para cuidar dos bebés
e ele trabalha a dobrar; tem muito que dar aos pés.
Arranjou dores de cabeça, despertou prà realidade.
É bom ter uma família e responsabilidade?
Enfim, os filhos cresceram e o casal lá se mantém.
São iguais a todo o mundo; ora estão mal, ora bem.
Passaram-se trinta anos de problemas resolvidos.
Nem sabem quanto se querem; separados ‘tão perdidos.
A vida dá muitas voltas e, agora, já cinquentões,
voltaram a ter problemas; travaram-se de razões.
Esposa desassossegada, dos filhos está liberta,
arranjou cão, mais um gato e para a escrita desperta.
Tem que imprimir versalhada, que escreveu durante o dia;
não tem tempo pra conversas, diz que isso é só fantasia!
Agora, quando ele quer, simplesmente conversar,
ela diz que na TV, o futebol está a dar.
O gato bufa e arranha se lhe passa a mão p’lo pêlo;
e, quando o homem se deita, sobre ele faz-se em novelo.
O cachorro pula e salta, morde a torto e a direito;
quando o homem chega a casa, fica com o fato desfeito.
Dá um beijo na mulher que anda eufórica da vida;
esteve no computador e atrasou toda a lida.
Olha o marido, sorri. Vendo que ele não está mal,
com doçura ela lhe diz:- Falta regar o quintal!
Depois da janta, um suspiro, de plena satisfação.
Afinal ela aprendeu, da vida a dura lição;
hoje em dia, é cozinheira de mão cheia e com preceito.
Dona de casa é assim: - Cinquentona é que tem jeito!
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13/07/2001
Laura B. Martins
Soc. Port. Autores nº 20958
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